Do total de pessoas que trabalham com reciclagem mais de 2/3 são mulheres. Segundo a estimativa do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), existem cerca de 800 mil pessoas ocupadas com a reciclagem no Brasil. Deste total 66% são mulheres. Estas, trabalham em cooperativas e associações de reciclagem em todas as frentes, desde a coleta até a venda dos materiais. Sendo que ainda ocupam posições de destaque nos empreendimentos de coleta seletiva, cargos de presidência, tesouraria e de conselhos. Elas possuem papel central na tomada de decisões, tendo destaque na gerência das associações e cooperativas.
Em Reserva-PR existe uma pequena associação de catadores, denominada como Associação de Catadores da Anta Gorda. Dos 10 associados, 9 são do gênero feminino. No tocante aspecto – elas enfrentam todas as dificuldades, e adversidades inerentes ao trabalho com o material reciclável, sejam eles de cunho estrutural ou social. É um trabalho árduo e que vem a ser encarado com grande determinação por tais mulheres
Inúmeras vezes discriminadas pelo mercado de trabalho tradicional, não conseguem empregos formais regidos pela CLT. Os motivos são vários – suas posições como chefes de família e com filhos para cuidar , não tendo sustento prévio necessário, acabam por encontrar guarida nas associações e cooperativas de catadores. Muitas, ainda com histórias de vida problemáticas, são reinseridas na cadeia produtiva através desses empreendimentos.
Infelizmente, o fato das mulheres serem maioria no trabalho que envolve os recicláveis, não garante melhores condições laborais, em comparação ao público masculino. Ainda cabe ressaltar a dupla jornada dessas mulheres, que após o expediente na reciclagem, tem seus afazeres domésticos e familiares.
Como exemplo temos o Brasil, o qual vem a ser o 4º maior produtor de resíduos plásticos no mundo (clique aqui e saiba mais). Em 2018 foram geradas 79 milhões de toneladas de resíduos. Apenas 3% deste total foi reciclado efetivamente. A fração média de resíduos recicláveis nos Resíduos sólidos urbanos é de aproximadamente 40%. Considerando estes números – nós reciclamos apenas 2,37 milhões de toneladas de um total disponível de 31,6 milhões de toneladas. Consideremos para efeitos de simplificação de cálculo o preço médiode 50 centavos por quilo de material reciclável a venda nas associações. Em uma síntese breve – o retorno de lucro foi de, apenas, 1 bilhão e 185 mil, sendo que o lucro disponível era esperado entorno de 15 bilhões e 800 mil (cerca de 13x maior)
Apenas em 2018, foram “enterrados” em aterros e lixões aproximadamente 14,6 bilhões de reais. Este valor é correspondente a quase 15 anos de orçamento do ministério do meio ambiente ( em torno de um bilhão anual). Ainda, o bolsa família deve ter orçamento de 35 bilhões em 2021, só com a venda de recicláveis que vão para aterro poderíamos manter o programa social por 5 meses. É muito dinheiro, não é?
Quando o resíduo urbano tem destino às associações/cooperativas de catadores, os materiais que para você não tem valor, podem sustentar toda uma cadeia produtiva local. Quando reciclamos nossos resíduos, eles são reintroduzidos na cadeia produtiva gerando riquezas locais, que tem mais possibilidades de aumentar o volume de dinheiro em circulação nos pequenos comércios dos bairros. Ou seja, quando você recicla seu resíduo – você automaticamente estará, além das questões ambientais, alavancando o emprego e renda da sua cidade, e além disso ainda estará sendo afetado diretamente, também.
O trabalho com recicláveis, se não se caracteriza, vem a beirar a insalubridade. Apresenta riscos diversos aos seus trabalhadores – entre eles estão relacionados problemas de cunho físico, químico, biológico, ergonômico e psicossocial. O trabalho desenvolvido por elas traz associação a uma série de descréditos e preconceitos por parte da sociedade. Esta invisibilidade se deve a falta de valorização do trabalhador da reciclagem. Ou seja, o trabalho não é reconhecido e não se dá a devida importância.
A sensibilização da sociedade, em que tange o reconhecimento social e valorização do labor, são fundamentais para a alavancagem da reciclagem no Brasil. Neste contexto a educação ambiental tem destaque, não somente em quesitos ambientais, mas também em aspectos sociais. Ainda de melhoria de condições de trabalho, valorização, reconhecimento e obtenção de melhores ganhos no setor.